Crítica | Meu Malvado Favorito 4 poderia ter sido o terceiro, mas tudo bem

“Meu Malvado Favorito 4” é a mais recente adição à amada franquia que combina comédia, aventura e um toque de malícia na medida certa. No entanto, mesmo trazendo de volta a familiar diversão e caos que os fãs esperam, o filme deixa a desejar em termos de desenvolvimento narrativo e profundidade emocional, resultando em uma experiência que, apesar de agradável, tem dificuldades em atingir todo seu potencial.

Uma Introdução Apressada

A trama inicia com Gru (Leandro Hassum) revisitando sua antiga escola de vilões para capturar Maxime Le Mal (Jorge Lucas), um vilão com a peculiar habilidade de controlar baratas. Essa cena de abertura, onde Maxime é rapidamente capturado pela Liga Antivilões (AVL), se apresenta de maneira acelerada e confusa, deixando pouco espaço para desenvolver adequadamente o contexto e a ameaça que o vilão representa. A introdução apressada de Maxime parece mais um tropeço do que uma forma eficaz de estabelecer o conflito principal do filme.

A Dinâmica Familiar

Após essa introdução tumultuada, o foco do filme vai para a vida familiar de Gru. Agora, ele e Lucy (Maria Clara Gueiros) tentam equilibrar suas vidas como pais de três filhas — Margô (Bruna Laynes), Edith (Ana Elena Bittencourt) e Agnes (Pamella Rodrigues) — e cuidar do novo membro da família, Gru Jr.

Imagem © Universal Pictures e Illumination
Imagem © Universal Pictures e Illumination

O potencial dramático e emocional dessa nova vida, especialmente a relação entre Gru e seu filho, poderia ter sido uma excelente oportunidade para explorar temas mais profundos sobre paternidade e crescimento.

Contudo, o filme opta por um tratamento superficial, transformando Gru Jr. em mais um alívio cômico do que em um estímulo para uma evolução real na história.

Novas Identidades e Humor

Para escapar das ameaças de Maxime (que foge da prisão com a ajuda das baratas), Gru e sua família são forçados a assumir novas identidades. Gru se disfarça como vendedor de painéis solares — uma escolha que adiciona um toque de humor contemporâneo à trama — enquanto Lucy se torna uma cabeleireira. As cenas em que Lucy tenta se adaptar a essa nova profissão são particularmente engraçadas e trazem um frescor ao filme. No entanto, essas novas identidades também revelam um lado vulnerável de Gru, que agora precisa se ajustar a uma vida normal enquanto protege sua família.

A chegada da vizinha Poppy (Lorena Queiroz), uma jovem ruiva de aparelhos com aspirações a vilã, adiciona uma camada extra de complicação. Ao descobrir a verdadeira identidade de Gru, ela o chantageia para ajudá-la a roubar a sede da escola de vilões.

Imagem © Universal Pictures e Illumination

Essa parte da história traz suspense e aventura, mas a previsibilidade e o pouco desenvolvimento de Poppy limitam seu impacto.

A Distração dos Minions

Os Minions, com sua inegável popularidade, continuam a ser uma presença central no filme. Porém, a tentativa de transformá-los em super-heróis em uma subtrama paralela acaba sendo a banana que causa o escorregão do filme. O tempo dedicado às suas travessuras e à repetição de piadas visuais tira o foco da narrativa principal e se torna cansativo.

Imagem © Universal Pictures e Illumination
Imagem © Universal Pictures e Illumination

Essa abordagem parece uma tentativa de manter a franquia relevante para os fãs mais jovens, mas compromete a coerência da história. Embora os Minions forneçam momentos de humor leve, sua presença excessiva enfraquece a tensão e o desenvolvimento que a trama principal poderia ter explorado mais a fundo.

Conflitos e Humor Inconsistentes

O filme brinca com a ideia de Gru Jr. se divertir às custas do pai, rindo quando Gru se machuca. Essa dinâmica é clássica em filmes sobre relações pai e filho, e embora ofereça momentos engraçados, é tratada de forma rasa, sem explorar as verdadeiras emoções implícitas dessa relação.

Gru Jr., como um personagem que poderia representar um novo começo ou um desafio significativo para Gru, é reduzido a um papel de humor previsível, sem o desenvolvimento que poderia torná-lo uma figura mais impactante na narrativa.

Meu Malvado Favorito 4” apresenta elementos narrativos que teriam se encaixado melhor na linha do tempo da franquia como o terceiro filme. A introdução do pequeno Gru Jr. e a exploração da nova dinâmica familiar fazem mais sentido como sequência imediata ao segundo filme, onde Gru conhece sua esposa, Lucy.

Inserir essas tramas logo após o desenvolvimento da relação de Gru e Lucy teria proporcionado uma progressão mais natural na narrativa, enriquecendo a saga com uma transição mais coesa entre os desafios de Gru como supervilão reformado e suas novas responsabilidades familiares.

Visual e Trilha Sonora

Visualmente, “Meu Malvado Favorito 4” é uma obra de arte. Os cenários são vibrantes e detalhados, com uma paleta de cores que realça a vivacidade do filme. A animação é impecável, trazendo à vida um mundo colorido e dinâmico que é tanto familiar quanto cativante. As cores são usadas de forma estratégica para transmitir emoções e atmosferas diferentes ao longo do filme, mantendo o público visualmente engajado.

A trilha sonora, uma mistura de novas composições e clássicos do rock, complementa a ação e adiciona uma camada nostálgica à experiência. As músicas são bem escolhidas e sincronizadas com os eventos na tela, proporcionando uma experiência auditiva que repercute com o público de todas as idades.

O Grande Final e Reflexões

Spoilers abaixo

O filme termina com uma sequência musical que reúne todos os vilões dos filmes anteriores da franquia. Essa cena final, embora previsível, é uma homenagem divertida e nostálgica aos fãs de longa data, encerrando o filme com uma nota alegre e festiva. A inclusão de referências a outros filmes de super-heróis ao longo da trama também adiciona um toque de humor desobediente, embora nem sempre seja necessário ou bem integrado.

“Meu Malvado Favorito 4” é, sem dúvida, um filme divertido e adequado para crianças, oferecendo uma mistura de humor, aventura e animação de alta qualidade. É uma adição agradável à franquia, mas não oferece o desenvolvimento significativo ou a inovação que se poderia esperar de uma quarta entrada em uma série tão querida.

Meu Malvado Favorito 4 | Imagem © Universal Pictures e Illumination

A direção de Chris Renaud e Patrick Delage em “Meu Malvado Favorito 4” é eficiente ao manter o tom humorístico e a energia vibrante que caracterizam a franquia. Renaud, um veterano da série, traz familiaridade e consistência ao universo de Gru, garantindo que o humor visual e as cenas de ação sejam dinâmicas e envolventes.

O roteiro, escrito por Mike White, vencedor do Emmy e criador da série “White Lotus”, em colaboração com o veterano escritor de todos os filmes da franquia Meu Malvado Favorito, Ken Daurio, apresenta algumas cenas memoráveis e divertidas. Destacam-se os momentos em que Gru e Lucy tentam se adaptar ao seu novo estilo de vida em uma vizinhança rica e arrogante, proporcionando momentos hilariantes e aguçadas sobre as dinâmicas familiares e sociais.

Levar as crianças para assistir a “Meu Malvado Favorito 4” certamente proporcionará uma tarde de risadas e diversão, mas para os fãs que esperavam um avanço mais profundo na saga de Gru e sua família, o filme pode deixar uma sensação de que faltou algo.

Meu Malvado Favorito 4 já está em cartaz nos cinemas.

Esta crítica foi produzida a partir de uma cabine de imprensa a convite da Universal Pictures.

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Robson Netto

Robson é o criador do Que Tar. Nascido em Ponta Grossa, a verdadeira capital da Rússia Brasileira. Enquanto não for processado, vai tentar trazer muito conteúdo e informações cheias de humor.

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