Por que gostamos de sentir medo? O cinema do terror responde

Você já se perguntou por que ama ver filmes de terror? Hoje vamos desvendar os segredos por trás do medo na tela e seus efeitos.

Filmes de terror têm uma grande capacidade de atrair e capturar a atenção do público, mesmo provocando reações intensas como medo, ansiedade e desconforto.

Essa experiência tem bases psicológicas, e oferece percepções sobre a natureza humana e a relação do indivíduo com o desconhecido.

A atração pelo horror é uma manifestação de uma propensão humana profunda. Esses filmes permitem a exploração do “lado mais sombrio da psicologia humana”.

A química do medo controlado no cinema

Ao ver cenas de suspense, terror e perigo iminente em filmes de terror, o corpo humano entra em um estado de excitação. O cérebro interpreta esses estímulos como uma ameaça e ativa o sistema nervoso simpático, preparando o organismo para uma resposta de luta ou fuga.

E essa ativação desencadeia hormônios como a adrenalina, a dopamina e o cortisol, que em conjunto, resultam numa onda de energia e alerta e contribuem para a resposta fisiológica geral.

A sequência de eventos fisiológicos cria uma “montanha russa neuroquímica”: A percepção inicial de ameaça desencadeia a liberação de adrenalina e cortisol, resultando em intensa excitação. E a liberação de dopamina e endorfina após a passagem do perigo estabelece um reforço positivo.

Razões psicológicas do terror

A atração por filmes de terror pode ser compreendida através de diversas lentes psicológicas. Algumas delas são:

Teoria da Excitação Emocional

Mulher assustada segurando um fósforo aceso em uma cena escura do filme Invocação do Mal
Crédito: Divulgação / Warner Bros. Pictures

Cada indivíduo busca um nível ótimo de excitação para o seu bem estar.

E em casos de filmes de terror, o cérebro percebe a sensação de medo como algo excitante e estimulante, levando a liberação de neurotransmissores como a dopamina. (Exemplo: Filmes com muitos jumpscares e sequências de perseguição como Invocação do Mal e Sobrenatural)

Catarse Emocional e Liberação de Tensões

Mulher gritando com expressão de pavor em cena intensa do filme Hereditário.
“Hereditário” trabalha com temas de trauma e luto, promovendo catarse emocional profunda.
Crédito: Divulgação / A24

É o processo de liberação de emoções intensas, frequentemente reprimidas ou acumuladas.

Obras de horror permitem que os espectadores enfrentem seus medos mais profundos e liberem suas emoções de maneira controlada, assistindo em um ambiente seguro e cientes de que é ficção. (Exemplo: Filmes que lidam com traumas ou luto de forma simbólica, como Hereditário e O Babadook)

Curiosidade Mórbida

Casal sentado na cama em imagem escura de câmera de segurança, do filme Atividade Paranormal.
“Atividade Paranormal” é referência em terror baseado em curiosidade mórbida e medo psicológico.
Crédito: Divulgação / Paramount Pictures

Atração por temas desconhecidos e perigosos. No gênero, coisas desconhecidas e inexplicáveis são frequentemente exploradas, desafiando a compreensão da realidade e despertando curiosidade. (Exemplo: Obras que exploram o desconhecido, como A Bruxa de Blair e Atividade Paranormal)

Cinema e Mente

O Dr. Mathias Clasen, diretor do Laboratório De Ficção Recreativa da Universidade de Aarhus, explica que o “medo controlado funciona como um simulador de voo para nossas emoções”.

Esse treinamento emocional prepara o cérebro para lidar melhor com situações estressantes reais. Ajuda a desenvolver a capacidade de racionalizar o medo e manter a calma, mesmo em situações intensas. O processo de experimentar e superar o medo em um contexto fictício promove uma sensação de realização.

Ao permitir que os indivíduos “treinem mentalmente” como lidariam com acontecimentos ameaçadores, os filmes de terror contribuem para um sensação de preparação e controle sobre os próprios medos, aprimorando a adaptabilidade geral.

Imersão nas telas

Apesar das emoções intensas, os espectadores permanecem em um ambiente seguro e controlado, sabendo que o perigo é fictício, e essa “distância psicológica” é importante para o prazer.

A consciência de que o “risco é falso, mas a adrenalina é real” permite a experiência prazerosa sem ameaça genuína.

Experiências de medo compartilhadas fortalecem laços sociais. O sistema de “cuidar e fazer amigos” é ativado sob ameaça percebida, levando as pessoas a criarem laços socioemocionais para proteção e conforto.

Experimentar o medo em conjunto, prepara o cenário emocional para se sentir ligado, o que é benéfico para a saúde.

O terror como reflexo da sociedade

Jovem com expressão enigmática e sangue no pescoço em cena do filme A Bruxa.
“A Bruxa” representa o horror histórico e existencial, abordando colapsos sociais e crenças extremas.
Crédito: Divulgação / A24

Filmes de terror retratam versões extremas de preocupações do mundo real e desafiam normas convencionais. Vamos ver alguns exemplos:

  • Horror climático, que reflete ansiedades sobre o colapso ambiental, como em A Estrada.
  • Horror histórico, que aborda colapsos sociais, como em A Bruxa.
  • E filmes como Corrente do Mal, que tratam de questões de consentimento.

Fundamentalmente, obras do horror abordam a impotência, retratando o peso opressor do desespero e os aspectos mais perturbadores da natureza humana.

Há evidências de que mais crianças e adolescentes assistem filmes do gênero, pois veem seus medos de um “futuro encurtado ou em rápida deterioração” refletidos na tela. Isso sugere que filmes de terror não apenas afetam a juventude, eles refletem as ansiedades e os desafios enfrentados pelas gerações mais jovens.

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Leia também: • Você sente, mas nem sempre percebe: o poder oculto da cinematografia

Artigo escrito por Isabelly Ferreira Cardoso – sob a supervisão de Robson Netto.

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