Marvel, você acertou neste, pode continuar. Leia a crítica completa, sem spoilers, de Thunderbolts.
O último filme da Fase 5 do MCU finalmente entrega o que os fãs estavam esperando: uma história com peso emocional, boas sequências de ação e personagens que realmente fazem a diferença. Thunderbolts é aquele respiro que a gente precisava depois de uma leva de produções meio esquecíveis (sim, estamos falando de Capitão América 4 e As Marvels).
Dessa vez, a Marvel resolveu arriscar — e acertou em cheio.
Logo nas primeiras cenas o filme já deixa claro seu ponto central: o vazio. Mas não é um vazio qualquer — é o emocional, aquele que corrói por dentro. E ninguém expressa isso melhor do que Yelena Belova, vivida por Florence Pugh, que mais uma vez entrega tudo em tela.
No alto de um prédio em Nova York, ela reflete sobre a dor de perder a irmã, Natasha, e sobre a vida sem rumo que vem levando desde então. Essa abertura já nos joga direto num tom mais sombrio, mais maduro, com uma fotografia belíssima que brinca com luz e sombra o tempo todo — uma metáfora visual poderosa sobre o estado emocional dos personagens.

Yelena agora trabalha para Valentina de Fontaine (Julia Louis-Dreyfus), a diretora da CIA que comanda operações secretas por debaixo dos panos. Mas a relação entre as duas é tudo menos estável. Valentina enfrenta um processo de impeachment e está desesperada para apagar qualquer evidência que a comprometa — inclusive seus próprios agentes.
Vivendo um impasse, sem saber se ainda tem um propósito ou se está apenas sendo usada mais uma vez, Yelena busca apoio onde ainda resta algum tipo de afeto: no seu pai, Alexei Shostakov — o Guardião Vermelho — interpretado com o carisma caótico de sempre por David Harbour. Ele vive recluso, mergulhado em suas próprias teorias conspiratórias e lembranças de glórias soviéticas, no meio da bagunça típica do personagem.
E é nessa relação excêntrica de pai e filha, cheia de piadas afetuosas, provocações e uma química cômica muito bem dosada, que o filme começa a encontrar seu tom. O Guardião ainda vive no caos de sempre, mais preocupado com recordes pessoais do que com salvar o mundo — mas não pense que ele é só alívio cômico. Em alguns momentos, a relação dele com Yelena traz uma carga emocional bem sincera.
Yelena aceita uma missão importante de Valentina, na esperança de provar que ainda pode ser útil — ou talvez, no fundo, só pra preencher esse vazio que não dá trégua.
É assim que ela acaba reencontrando outros rostos familiares do MCU: o Agente Americano (Wyatt Russell), a Fantasma (Hannah John-Kamen) e Taskmaster (Olga Kurylenko). O que parecia mais um trabalho comum para cada um deles vira uma cilada, quando todos percebem que foram reunidos só pra sumirem do mapa. Literalmente descartáveis.
Na tentativa de escapar, o grupo acaba cruzando com um novo personagem: Bob (Lewis Pullman). Ele surge no meio do caos, sem saber como chegou ali ou quem realmente é — e essa dúvida se estende por boa parte do filme. Bob não é só mais um perdido. Ele carrega um poder estranho: consegue colocar as pessoas num estado de hipnose que faz reviverem seus maiores traumas.

A primeira a passar por isso é Yelena, forçada a encarar as lembranças da época da Sala Vermelha, onde foi treinada desde criança. Logo depois, o Agente Americano também mergulha em seu passado violento, encarando as consequências de uma ação que destruiu sua carreira e também a relação com a sua família. E assim, um a um, o filme vai mostrando que todos ali carregam cicatrizes — e que talvez seja esse o único ponto em comum entre eles.
Bob, aos poucos, revela ser a única cobaia viva de um experimento ultra secreto para criar super-humanos. Ele não entende o próprio poder e, mais do que isso, está completamente perdido entre o medo e a culpa. Ainda assim, é ele quem dá o estalo para que os desajustados se unam de verdade — não por patriotismo ou heroísmo, mas porque precisam sobreviver.
E é aí que entra Bucky Barnes/Soldado Invernal (Sebastian Stan). Agora congressista, ele vive em conflito com sua natureza. O Soldado Invernal ainda está ali, mas escondido sob uma fachada de controle e responsabilidade. Quando descobre que Valentina está por trás da emboscada, e que sua velha companheira Yelena está em risco, ele volta à ação. Sem máscara, sem escudo — só com o que sobrou de suas convicções.
Juntos, eles descobrem que Valentina quer capturar Bob, não só para se livrar das consequências políticas, mas também porque vê nele uma possível arma. Ela subestima o poder de Bob — e subestima o que acontece quando um bando de rejeitados resolve se unir por conta própria.
As cenas de ação que seguem são bem dirigidas, com boa coreografia e efeitos que não tomam conta da tela — aqui, a prioridade é o impacto emocional. E mesmo nos momentos de pancadaria, o filme não esquece quem são esses personagens: cada luta carrega um peso, cada decisão tem consequência.
A grande sacada de Thunderbolts é transformar um bando de figurantes em protagonistas com alma. Eles não são os mais fortes, nem os mais brilhantes — e é justamente por isso que funcionam. São todos emocionalmente instáveis, cheios de falhas, de passado mal resolvido. E isso os torna muito mais interessantes do que muitos heróis clássicos.
O humor está presente, claro, mas com um tom mais seco, mais irônico. Nada de piadas a cada cinco segundos — aqui, o riso vem de situações desconfortáveis, da química entre os personagens e, principalmente, da forma como eles lidam com a própria desgraça.

O filme também é recheado de sacadas que os fãs da Marvel vão reconhecer de longe. Aquelas referências pontuais, mas bem colocadas, que já viraram marca registrada do MCU. Há menções claras ao fim dos Vingadores originais — e ao vazio que essa ausência deixou no mundo. Um luto coletivo que ecoa não só nas falas dos personagens, mas nas entrelinhas do próprio roteiro.
E tem ainda uma brincadeira que só quem prestou atenção vai captar: o nome Thunderbolts não é só uma escolha de impacto. É também uma lembrança pessoal, um elo afetivo. Um detalhe que parece pequeno, mas que dá uma camada emocional extra à formação desse grupo improvável — que, mesmo sem querer, virou um time de verdade. Ou pelo menos algo parecido com isso.
A direção de Jake Schreier é segura e respeita a complexidade dos personagens. Já o roteiro de Eric Pearson acerta ao apostar em diálogos sinceros, sem cair no melodrama ou no didatismo. E a trilha sonora acerta ao pontuar os momentos mais sombrios com tensão, sem exageros.
Destaques? Florence Pugh, obviamente. Sua Yelena é multifacetada: forte, sarcástica, vulnerável e cheia de nuances. David Harbour traz leveza e emoção, e Lewis Pullman entrega um personagem difícil, dualístico, mas magnético. Bob é estranho, mas impossível de ignorar em suas camadas e intenções.

Talvez o maior mérito do filme seja justamente esse: ele se sustenta sozinho. Não exige que você tenha visto todos os outros filmes ou séries pra entender o que está em jogo. Funciona como uma história fechada, mas com potencial de expansão — e isso é raro na Marvel recente.
Se você é daqueles que anda cansado da fórmula, Thunderbolts pode reacender sua curiosidade. E se você ainda acredita que o universo Marvel pode surpreender, esse filme é uma boa prova de que nem tudo está perdido.

No fim das contas, Thunderbolts é sobre pertencer. Sobre encontrar força no outro, mesmo quando tudo em você grita para se isolar. É um filme sobre dor, sim — mas também sobre superação. E sobre o poder de transformar rejeição em união.
Thunderbolts* estreia em 30 de abril exclusivamente nos cinemas.
Esta crítica foi produzida a partir de uma cabine de imprensa a convite da Marvel Studios e Disney.