Crítica | Lobisomem é um ótimo conto de terror para quem precisa de terapia

Mais do que uma história sobre monstros, “Lobisomem” explora as sombras da relação entre pai e filho, traçando paralelos entre proteção e controle.

Dirigido por Leigh Whannell, a nova produção da Blumhouse cumpre a promessa de um terror psicológico que mistura sustos, tensão e um toque de brutalidade gráfica. Desde o início, o filme estabelece sua atmosfera sombria com um prólogo que transporta o espectador para um vilarejo isolado em Oregon, em 1992, cercado por florestas densas. A comunidade, que vive da caça, é assombrada por relatos de uma figura monstruosa: um trilheiro desaparecido infectado pela chamada “face do lobo” – uma versão mítica da licantropia.

A trama central acompanha Blake (Christopher Abbot), que, na infância, cresceu sob a tutela rígida de um pai autoritário. Em um mundo onde o perigo parecia estar em toda parte, a relação entre eles era marcada tanto pela proteção quanto pela dureza. Esse vínculo é posto à prova durante uma caçada ao cervo que rapidamente se transforma em uma luta pela sobrevivência.

Algo os observa nas sombras – uma criatura poderosa e ameaçadora que os força a encarar seus maiores medos. A tensão cresce quando a floresta, antes um cenário de rotina para pai e filho, começa a se transformar em um ambiente de ameaças invisíveis. O menino, ansioso por provar sua bravura, se perde brevemente, e esse curto instante de vulnerabilidade é suficiente para alterar completamente a dinâmica da caçada. Não é apenas o garoto que sente o peso do medo — a expressão tensa do pai revela que, pela primeira vez, ele também se vê impotente diante do que está por vir.

Lobisomem é um filme que gera discussão leia a crítica e descubra os altos e baixos.
Imagem: Divulgação – Universal Pictures Brasil

A escolha de ocultar o monstro em cenas estrategicamente construídas é um acerto, amplificando a tensão e o impacto de sua revelação. O prólogo confirma que a criatura é provavelmente o trilheiro desaparecido, agora transformado em algo monstruoso. Essa descoberta torna a caça ainda mais pessoal para o pai, que decide capturá-lo a qualquer custo. Determinado e obcecado, ele vê nisso uma missão que vai além da proteção do vilarejo, estabelecendo o tom que guia a história.

Décadas depois, Blake é agora um pai de família tentando proteger sua própria filha, Ginger (Matilda Firth), enquanto lida com os traumas de sua criação. Casado com Charlotte (Julia Garner), uma jornalista dedicada ao trabalho, ele enfrenta os desafios de um casamento desgastado e uma relação familiar que carece de equilíbrio. A complexidade do casal é explorada, mas a narrativa falha ao não aprofundar os conflitos entre eles, deixando lacunas que poderiam enriquecer o enredo.

Quando Blake recebe a notícia da morte oficial de seu pai, ele retorna ao lar de infância para resolver questões de herança. Na tentativa de reaproximar Charlotte, ele propõe uma viagem em família, mas o plano desmorona antes mesmo de chegarem ao destino. Um encontro fatídico com a criatura resulta em um acidente que prende a família em uma situação de terror absoluto.

A inclusão de um personagem que aparece apenas para ser vítima da criatura soa desnecessária e pouco conectada à trama. Sua presença parece servir apenas para criar uma cena de tensão extra, sem acrescentar profundidade à história ou aos protagonistas. Isso acaba enfraquecendo o impacto do momento, que poderia ter sido melhor aproveitado para explorar a ameaça da fera de forma mais significativa.

Imagem: Divulgação – Universal Pictures Brasil

A tensão aumenta conforme a criatura os persegue até a antiga casa. Sem comunicação com o mundo exterior e com um arranhão sofrido por Blake começando a infeccionar, a transformação que todos temiam se desenrola.

Essa metamorfose, embora apressada, é visualmente impressionante, apresentando uma abordagem única para o lobisomem: olhos ampliados para visão aguçada, um nariz mais sensível e dentes adaptados para caça. (Te lembra alguma história?)

Uma das decisões mais audaciosas do filme é a forma como ele explora a transformação do protagonista, fazendo com que o público experimente a mudança através da sua perspectiva. Em vez de simplesmente mostrar a transfiguração de fora, o filme mergulha na mente do personagem, permitindo que o espectador vivencie sua percepção distorcida à medida que ele se torna algo além do humano.

Imagem: Divulgação – Universal Pictures Brasil

Quando sua esposa e filha entram em pânico, ao perceberem que o homem que elas conhecem está desaparecendo, o ponto de vista do protagonista revela como um lobisomem enxerga o mundo. Tudo fica mais nítido, claro e sensível — cada movimento, cada cheiro, cada som é amplificado. Esse enfoque não apenas intensifica o terror psicológico, mas também humaniza a criatura, mostrando que, apesar da monstruosidade, ainda há uma conexão com a sua antiga natureza. É uma exploração profunda da dualidade entre o homem e a besta, e a maneira como a transformação altera sua percepção da realidade ao redor.

Entretanto, o desempenho de Matilda Firth como Ginger é inconsistente, quebrando o clima em momentos importantes do filme. Apesar disso, a relação entre pai e filha mantém a carga emocional necessária para sustentar o arco dramático. A direção de Whannell brilha ao criar um ambiente opressor e extrair o melhor de Christopher Abbot, cuja performance captura a luta interna entre humanidade e monstruosidade.

“Lobisomem” é uma narrativa sobre sobrevivência, marcada por erros ocasionais de continuidade e sustos previsíveis, mas que se destaca ao usar o terror como metáfora para traumas geracionais. Tem bons momentos, mas a trama acaba sendo um pouco previsível e os personagens não são tão bem explorados quanto poderiam.

Embora o filme tenha suas falhas, ele ainda entrega alguns sustos e uma experiência divertida. A mistura de folclore e psicologia resulta em um filme que desafia os limites do gênero, entregando uma experiência curiosa e um ótimo conto.

O filme chega aos cinemas distribuído pela Universal Pictures Brasil no dia 16 de janeiro.

Esta crítica foi produzida a partir de uma cabine de imprensa à convite da Universal Pictures.

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Robson Netto

Robson é o criador do Que Tar. Nascido em Ponta Grossa, a verdadeira capital da Rússia Brasileira. Enquanto não for processado, vai tentar trazer muito conteúdo e informações cheias de humor.

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