O live-action de Como Treinar o Seu Dragão emociona com visual deslumbrante e a bela amizade entre Soluço e Banguela. Uma história sobre coragem e empatia. Leia a crítica completa.
O novo live-action inspirado no primeiro filme da trilogia Como Treinar o seu Dragão, da DreamWorks Animation, é como reencontrar um velho amigo que amadureceu com o tempo: continua encantador, mas agora carrega uma nova camada de emoção, intensidade e realismo.
A adaptação respeita fielmente o legado da animação original, mas ganha potência ao explorar de forma mais realista os laços de amizade, a força das diferenças e o peso do protagonismo.
Talvez você já conheça Berk, a ilha viking onde tudo acontece. Mas aqui, a Berk do live-action ganha nova vida: não apenas contada por Soluço, nosso protagonista e narrador, mas visualmente deslumbrante. A combinação das paisagens da Islândia e do norte da Irlanda transforma a tela em um verdadeiro espetáculo. As formações rochosas, os fiordes, os campos abertos e os vilarejos com arquitetura nórdica fazem com que a fantasia pareça quase histórica. Um início arrebatador.
Logo no prólogo, somos jogados em meio ao caos: a vila está sob mais um ataque de dragões que, em busca de comida, deixam destruição por onde passam. A introdução é frenética, com muita fumaça, gritos e personagens correndo de um lado para o outro, cada um tentando conter um tipo diferente de criatura alada.
É nesse cenário que conhecemos Soluço (vivido por Mason Thames), um jovem viking mais atrapalhado do que heroico, mas que insiste em provar que tem algo a oferecer, mesmo que ninguém pareça acreditar.
O Fúria da Noite, um dos dragões mais raros e misteriosos, que nunca foi verdadeiramente visto ou catalogado, surge como o ponto de virada da história. Soluço, com uma engenhoca criada por conta própria, consegue acertar o tal dragão lendário. Mas o que parecia ser um gesto de bravura e glória se transforma numa jornada de empatia e amizade.
O roteiro, assim como na animação, usa esse momento para virar a chave: os dragões deixam de ser simples ameaças para se tornarem, aos poucos, personagens curiosos. Ao encontrar o Fúria da Noite caído na floresta, ferido e vulnerável, Soluço hesita. Não consegue matá-lo. E ao invés disso, decide soltá-lo: um gesto que muda tudo.
O nome que ele dá ao dragão, Banguela, já é um clássico, mas ganha novas nuances aqui. Mesmo ferido, sem uma das barbatanas que permitem o voo, Banguela é imponente e carismático, como um animal doméstico carente e com leves traumas.

A relação entre os dois cresce em silêncio, em trocas de olhar, em cenas lindamente filmadas que mesclam humor e doçura. Aos poucos, a confiança se instala, e a parceria começa a se desenhar, com Soluço construindo, aos trancos e barrancos, uma prótese que permita ao novo amigo voltar a voar.
E aí o filme brilha. Porque não é só sobre dragões ou vikings, mas sobre conexão. Sobre ver além do medo. E também sobre ser visto: algo que Soluço nunca havia sentido dentro da própria comunidade. Ele passa a treinar Banguela, a voar com ele, a entendê-lo… e, de quebra, aprende coisas que nenhum viking jamais ousou imaginar.
É com esse conhecimento que ele começa a se destacar nas aulas de combate a dragões, onde deveria aprender a matar essas criaturas. Mas Soluço faz tudo ao contrário: amansa, acalma, entende. Ele se comunica. Usa enguias, carinho e até cócegas para desarmar os monstros mais temidos.

Toda essa reviravolta pega todo mundo de surpresa, dos colegas de treino ao pai, que mal sabia o que o filho andava aprontando na floresta. Soluço, aquele garoto magrelo, estabanado e sempre deixado de lado, de repente vira o centro das atenções. Um viking que não apenas entende os dragões… mas parece controlá-los?
Os treinos, aliás, são recheados de cenas hilárias e bem coreografadas. Astrid (Nico Parker), sua rival mais talentosa, começa cética, mas aos poucos percebe que há algo diferente no comportamento de Soluço, e isso, claro, acende uma chama de curiosidade (e tensão) entre os dois.
O elenco é bem escolhido. A atuação de Mason Thames é um dos grandes acertos do live-action. Ele entrega um Soluço carismático, inteligente, sensível e espirituoso. Seu arco é crível e afetuoso: de um garoto atrapalhado e inseguro, para alguém capaz de liderar e questionar tudo o que lhe foi ensinado.

E Gerard Butler retorna como Stoico (agora em pele, osso e muita barba) o pai durão e líder dos vikings, que agora precisa encarar o fato de que seu filho talvez tenha um caminho diferente, mais emocional, menos bélico, e que isso não é um defeito. É um dom. Para Stoico, a revelação de Soluço é o sinal de que o filho finalmente encontrou utilidade: talvez agora, ele seja mesmo capaz de eliminar as criaturas que tanto ameaçam Berk. O que ele ainda não sabe é que Soluço não quer matar nenhum dragão. Ele quer salvar todos eles.

Nico Parker como Astrid também merece destaque. Ela traz firmeza e energia para uma personagem que poderia facilmente ser apenas o par romântico. Mas aqui, ela é guerreira, questionadora, determinada. Ela dá uma profundidade ainda maior para a personagem que também busca o heroísmo e seu lugar dentro da comunidade, mesmo não sendo uma herdeira. Por isso que ela luta tanto. Sua relação com Soluço é construída com respeito e admiração mútua, o que torna tudo mais interessante.

O ponto alto do filme é, sem dúvida, o reencontro entre comunidade e dragões. A direção de Dean DeBlois, que também assina o roteiro ao lado de Cressida Cowell (autora da saga dos livros que inspiraram a animação) e William Davies, conduz o clímax com emoção crescente. Quando a paz entre as espécies parece impossível, uma ameaça maior coloca todos em risco e obriga os dois lados a se unirem. E quem lidera essa aliança? Um garoto que decidiu não matar um dragão.
As batalhas são visualmente impressionantes. Os efeitos especiais que criam os dragões são orgânicos, fluidos e cheios de detalhes. Cada criatura tem uma personalidade própria, um tipo de voo, um jeito de se expressar. Banguela, em especial, é uma obra-prima digital e, ainda assim, extremamente expressivo, como se tivesse alma. A fotografia reforça o tom épico, mas sem perder o foco da intimidade da história.
O design de produção é outro acerto. Os figurinos vikings são ricos em texturas e camadas. As vilas têm um ar artesanal, as forjas fumegam, e cada espaço tem vida própria. É fácil se imaginar vivendo ali. O som também merece elogios: a trilha de John Powell, com temas originais reimaginados e faixas emocionantes, embala a história com perfeição, dos momentos de contemplação aos voos mais eletrizantes.
E se há algo que merece um parágrafo só para si, é o momento em que Banguela e Soluço voam juntos pela primeira vez. A câmera acompanha o voo, gira com eles, mergulha e sobe ao som da trilha marcante. É libertador, belo, arrepiante, uma daquelas cenas que faz valer o ingresso.
“Como Treinar o Seu Dragão” em live-action é, no fim das contas, uma carta de amor à ideia de que coragem não está em levantar espadas, mas em baixar defesas. Que a verdadeira força está em compreender o outro, mesmo quando esse outro cospe fogo, morde e voa. É uma história sobre identidade, aceitação e sobre encontrar seu lugar, mesmo quando todo mundo diz que você está errado.
Para quem cresceu com a animação, o filme é nostálgico, mas não repetitivo. Para quem está conhecendo agora, é uma excelente porta de entrada para um mundo fantástico, emocionante e cheio de significado. E para todas as idades, é um lembrete poderoso: o mundo pode ser mais bonito quando paramos de lutar contra ele e começamos a voar ao lado dele.
O filme estreia oficialmente nos cinemas no dia 12 de junho, mas conta com sessões antecipadas no dia 07 de junho em salas selecionadas pelo país, consulte a programação do cinema da sua cidade.
Esta crítica foi produzida a partir de uma cabine de imprensa a convite da Universal Pictures Brasil.