“Abraço de Mãe” se destaca como um thriller de terror que usa elementos clássicos do gênero, mas com uma ambientação única: o Rio de Janeiro em meio a um dos temporais mais devastadores da década de 90.
A direção de Cristian Ponce transforma o Rio de Janeiro em algo sombrio e ameaçador, com uma estética que mistura o cotidiano urbano com o surreal.
O filme segue Ana, interpretada brilhantemente por Marjorie Estiano, uma bombeira traumatizada que retorna à ativa após um colapso psicológico durante uma missão de resgate.
Abraço de Mãe começa de maneira impactante com uma cena perturbadora entre Ana, ainda criança, e sua mãe (Chandelly Braz). A sequência, repleta de tensão, estabelece o tom sombrio do filme ao mostrar a mãe de Ana, aparentemente em um estado de distúrbio mental, levando a filha para um parque de diversões. Lá, elas entram em uma atração bizarra que simula o corpo de uma mulher, culminando em uma visão surreal de um feto gigante.
A cena é ainda mais inquietante quando ambas, sob efeito de um medicamento, começam a experimentar alucinações. Esse início não só dá o pontapé na atmosfera macabra do filme, como também insinua os traumas profundos que Ana carregará para a vida adulta. O roteiro constrói esta relação entre a protagonista e estes traumas do passado, algo que se torna central para o desenvolvimento da história.
Agora bombeira, ela é recebida de volta pela equipe, mas já nos primeiros atendimentos, sinais de que algo não está bem começam a surgir. Embora Ana demonstre competência no campo, pequenos lapsos e memórias do seu passado começam a ressurgir, sugerindo que seu trauma ainda a persegue.
A atmosfera no Rio de Janeiro é de caos, com enchentes devastadoras, e isso é refletido no clima apocalíptico que segue o filme. Em meio a essa crise, Ana e sua equipe recebem um chamado para evacuar um asilo em risco de desabamento.
Envolto em mistério, este asilo já carrega um ar de terror antes mesmo da chegada da equipe, e é aqui que a narrativa começa a mergulhar cada vez mais fundo no sobrenatural e nos horrores psicológicos que cercam Ana. A atmosfera se transforma completamente quando a equipe de resgate chega ao local, e o cenário passa de uma simples evacuação para algo muito mais sinistro.
O título “Abraço de Mãe” reflete de maneira perturbadora a relação entre mãe e filha, explorada por meio de símbolos visuais como tentáculos e fetos em formação, remetendo ao universo grotesco de H.P. Lovecraft.
O asilo, com seus moradores inquietantes, funciona quase como uma extensão física dos medos de Ana, trazendo à tona memórias reprimidas e traumas não resolvidos.
A atriz Ângela Rabello, falecida em novembro de 2023, faz uma participação marcante como uma das moradoras do asilo, interpretando uma personagem envolta em mistério e simbolismo de uma “seita” secreta que permeia o local.
Embora o filme tenha um orçamento modesto, o que fica evidente em alguns efeitos visuais, a direção inteligente compensa com cenários bem construídos e uma atmosfera que suga o espectador para dentro da história.
No entanto, talvez o maior mérito do filme esteja em sua capacidade de conectar o terror sobrenatural com os medos psicológicos e reais de sua protagonista. O filme não se limita a ser apenas uma experiência de horror, mas também um estudo dos impactos do trauma e da maternidade, temas que se entrelaçam de maneira sutil, porém poderosa.
Com uma duração de 91 minutos, o filme se mantém conciso e ágil, sem perder o foco. Marjorie Estiano entrega uma performance excepcional, conduzindo a narrativa com firmeza e emoção, enquanto o resto do elenco também cumpre bem seu papel.
Apesar de alguns clichês do gênero, “Abraço de Mãe” é uma produção perfeita para os fãs de terror, oferecendo uma história envolvente, personagens complexos e um final digno de um terrorzão.
Abraço de Mãe estreia na Netflix no dia 23 de outubro.
Esta crítica foi produzida a partir de uma cabine de imprensa à convite da Lupa Filmes.
