Quando o passado bate à porta e a Morte está do outro lado. Leia a nossa crítica de Premonição 6: Laços de Sangue.
O que você faria se descobrisse que não deveria estar vivo? E se, para piorar, a única pessoa capaz de te explicar isso tudo fosse sua avó, reclusa e cercada por muros, grades e avisos para não se aproximar?
Premonição 6: Laços de Sangue retorna com tudo o que a franquia tem de melhor: mortes brutais, tensão crescente e aquela presença invisível, mas sempre certeira, da Morte, que continua sendo o vilão mais criativo do terror moderno. E mais do que isso, o filme acerta em algo que muitos fãs esperavam: finalmente costura toda a saga com uma história de origem. E não qualquer história. Uma que mexe com o passado, com as raízes e com o próprio sangue dos personagens.
Desde os primeiros minutos, o filme te agarra e não solta mais. A cena de abertura é uma aula de construção de tensão, ambientada nos anos 60, durante a festa de inauguração de uma torre de observação. Ali, o casal Iris (Brec Bassinger) e Paul (Max Lloyd-Jones) tenta viver uma noite romântica, mas algo está fora do lugar.

Os olhares, os silêncios, os sinais que só a franquia Premonição sabe espalhar em cada canto da tela. Quando o recepcionista diz que seus nomes não constam na lista de convidados, o pressentimento de Iris se confirma: não era para eles estarem ali. Mas, como manda a mitologia da franquia, ignorar os sinais nunca acaba bem.
A sequência da tragédia, ou melhor, da premonição da tragédia, é uma das mais impactantes da série. Sangrenta, precisa, sufocante. Quem tem medo de altura vai querer ver essa cena de olhos semicerrados. É a clássica coreografia da morte em câmera lenta, em que cada objeto, cada tropeço, cada olhar errado pode definir o destino de cada um ali.
E aí, entramos na história principal: Stefanie (Kaitlyn Santa Juana) acorda em pânico no meio de uma aula na faculdade. O que parece ser só mais um pesadelo se repete noite após noite, afetando sua rotina e despertando nela uma obsessão: ela precisa entender quem é Iris, a mulher que vê nos sonhos, mesmo sabendo que é sua avó materna, que ela nunca conheceu. E como tudo em Premonição, nada disso é coincidência.

A volta para sua cidade natal serve como o primeiro mergulho na escuridão. Lá, Stefanie reencontra seu pai e seu irmão Charlie (Teo Briones), com quem o vínculo já está desgastado. A família, como não poderia deixar de ser, é cheia de lacunas, traumas e segredos não ditos. O abandono da mãe, o afastamento da avó, e aquela sensação de que há algo maior e mais sombrio ligando todos eles.
Mas Stefanie não está ali por saudade. Ela é uma personagem quebrada, desajustada, cuja fragilidade se traduz em impulsividade. Seu objetivo é claro: encontrar Iris e entender a origem das visões que a atormentam. E mesmo com os avisos do pai e do tio que deixaram de falar com a matriarca por acreditar em sua insanidade, ela insiste.
E aí vem um dos encontros mais inquietantes do filme. Iris, agora idosa (Gabrielle Rose), vive isolada em um abrigo quase bunker, com cercas elétricas e cartazes de advertência. A conversa entre as duas é densa, cheia de pausas incômodas. Mas também reveladora. Iris não está ali à toa: ela teve uma visão da tragédia na torre e salvou dezenas de pessoas. Mas ao interferir no plano da Morte, desencadeou algo ainda pior. Porque a Morte, como aprendemos ao longo dos filmes, é paciente, meticulosa e obstinada. E agora está atrás não só daqueles que escaparam, mas também dos que nunca deveriam ter nascido.

A partir daí, o roteiro embarca num ritmo familiar, mas eficiente. Stefanie, ainda cética, começa a ligar os pontos e a ver, de forma cada vez mais clara, que sua família está no radar da Morte. E aí, começa o jogo. Um a um, os membros da família vão sendo alvejados por acidentes absurdos, encadeados de forma quase cômica, se não fossem tão letais.
Como fã da franquia, confesso que queria pausar o filme em alguns momentos só para analisar as anotações que Iris mantinha: registros, recortes e teorias que conectam este capítulo a eventos de todos os filmes anteriores. É como se tudo estivesse ali o tempo todo e a gente que não tinha prestado atenção o suficiente.

E Premonição 6 se diverte com isso. Cria armadilhas falsas, pistas visuais que fazem o espectador achar que entendeu como alguém vai morrer — e vira tudo de cabeça pra baixo. A Morte continua sendo a roteirista mais sarcástica do cinema. E a metáfora é potente: viver é caminhar por um campo minado que só ela conhece.
Visualmente, o filme entrega o que promete: muito sangue, ossos quebrados, vísceras e sustos bem posicionados. Alguns efeitos digitais parecem exagerados, sim, mas são compensados por efeitos práticos bem executados.
Kaitlyn Santa Juana, como Stefanie, segura bem a protagonista. Não é a personagem mais carismática da franquia, mas transmite com autenticidade o desespero de quem está sendo perseguido por algo que não entende. O destaque, no entanto, vai para Gabrielle Rose e Brec Bassinger, que interpretam Iris em diferentes fases da vida. A Iris jovem carrega uma força instintiva, enquanto a Iris idosa é a personificação do medo domesticado — aquela que aprendeu a viver em alerta e traumatizou o restante da sua linhagem.
Mas o brilho do filme é, sem dúvida, Tony Todd. Seu personagem, JB/William Bludworth, é o elo sombrio entre todos os filmes. A figura misteriosa que sabe demais, fala por metáforas e nunca entrega tudo.

Nesse sexto capítulo, ele retorna com uma presença ainda mais significativa — e dolorosa. Tony Todd faleceu em novembro de 2024, e esse é seu último papel no cinema. E que despedida. Sua presença é magnética. Ele não precisa de grandes discursos: sua voz, seu olhar e sua calma diante da morte são o suficiente. Foi como ver um velho amigo indo embora, deixando uma última lição.
As mortes em Premonição 6 são um show à parte — e aqui o termo não é exagero. Elas vão desde as mais óbvias, daquelas que a gente já começa prevendo o desfecho assim que a câmera foca num objeto aparentemente inofensivo, até as mais inesperadas, que pegam o espectador de surpresa e pensar “não é possível que foi assim!”.
Todas carregadas daquela criatividade mórbida que a Morte adora mostrar. Algumas cenas são tão gráficas que chegam a ser desconfortáveis no melhor sentido possível, do jeito que o fã da franquia gosta: com tensão crescente, reviravolta no último segundo e um desfecho que, se não traumatiza, pelo menos faz você olhar duas vezes pra qualquer objeto à sua frente.
Outro ponto alto é a trilha sonora. Fiel ao espírito da saga, as músicas funcionam como prenúncios do que está por vir. A Morte sempre teve bom gosto musical, que cruel ironia. Desde “Rocky Mountain High” no primeiro filme, passando por “Highway to Hell” e “Turn Around, Look at Me” nos seguintes, até as escolhas desse novo longa, que seguem embalando cada cena com um senso de presságio e nostalgia.

Na parte técnica, a direção de Zach Lipovsky e Adam B. Stein é competente. Eles sabem o que os fãs querem e entregam exatamente isso: mortes criativas, conexões com os filmes anteriores e um senso de urgência que não se perde. O roteiro de Guy Busick, Lori Evans Taylor e Jon Watts é ágil, mas talvez tenha acelerado demais em certos pontos.
A origem da maldição da Morte é fascinante, mas merecia um pouco mais de tempo para respirar. Mesmo assim, os diálogos funcionam, os sustos são bem construídos e os personagens têm motivações claras. Ao colocar a Morte como uma herança indesejada que atravessa gerações, o filme ganha um peso emocional que os anteriores não tinham.
Premonição 6: Laços de Sangue é, ao mesmo tempo, um filme de origem e um presente para os fãs. A franquia revive como nunca: brutal, emocional e com um roteiro que finalmente conecta todas as peças.
Resgata o clima tenso dos primeiros filmes, brinca com as expectativas do público e fecha o ciclo com uma elegância surpreendente. E mesmo que você nunca tenha assistido aos anteriores, ainda assim vai sair do cinema olhando duas vezes antes de atravessar a rua.
Uma produção da New Line Cinema, distribuída pela Warner Bros. Pictures, Premonição 6: Laços de Sangue estreia nos cinemas em 15 de maio.
Esta crítica foi produzida a partir de uma cabine de imprensa a convite da Warner Bros. Pictures Brasil.
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